sábado, 31 de janeiro de 2009

CONVERSINHA VITERINÁRIA - Isaque Borba

Hoje vou contar uma coisinha, ou seja, uma conversinha que eu ouvi, há muitos anos atrás, quando eu era rapaz piqueno lá no Canto da Praia de Camboriú, entre o seu Nico carroceiro e o Zé Ventura, nosso curandeiro.
Se Zé, sabia tudo de benzimento e toda a ciência necessária às curas do nosso povo e seu animais.
Seu Nico foi consultá-lo porque seu cavalo estava praticamente morto.
Seu Zé na sua costumeira calma ouviu atentamente as explicações do amigo. Nosso veterinário Papa-siri, após ouvi-lo atentamente passou ao seu costumeiro e minucioso inquérito tão necessário um bom diagnóstico digamos “médico”. Ele dizia, ponan, ponan, antes de formar suas frases.
Eu que andava sempre em derridó do seu Zé Ventura, presenciei o colóquio que foi mais ou menos assim:
-Ponam, ponam. . . Andasse muito co teu cavalo nessa torreira do sóli, foi?
-Andei, um pouco; .... bastante....
-Sabes que essa suluna que anda esse verão, nem cavalo s’agüenta!
-Fazê o quê sô Zé, sô obrigado.
-O animáli tava bosteando mole ou bosteando duro?
-Mole, muito mole, sô Zé
- Merda preta ou amarela?
- Amarela, né, seu Zé, não assim que os animális cagam quando tão duente?
-Ramelava pelo um zólho ou ramelava pelos dois zólho?
-Nos dois né, sô Zé.
-Sortava uma gosma pelos nariz ou sorta essa gosma pela boca, tumém?
-Sorta uma baba grossa pela boca, sim seu Zé.
-Tá imperado? Sagüenta em pé ou tá estirado no chão?
-Tá morto, sô Zé, arriadinho, arriadinho no chão.
-Ponam, ponam. . . Trupediô nas pernas antes de se arriá, ou não?
-Ah, vinha trupidiando sim, trupicou diversas vez comigo em riba dele.
-Tá muito esbaforido, tá?
-É. . . Tava esbofando bastante, sim.
- Tava muito ansiado, tava?
-Muito, muito.
-Tentasse arribá ele?
-Num tentei num sinhô, o bicho tá muito arriado.
-Desse de bebê água a ele, desse?
-Di.
-Não arribô?
-Nada.
Então, Zé Ventura concluiu e mandou o veredito:
- “Ponam, Ponam, misim fio, vai pra casa pensado no homi mais mintiroso que tu cunhece im Cambriú, co teu cavalo vai ficá bom”.
O homem deu uma gorjetinha pro velhinho e foi-se embora, pensando no homem mais mentiroso de todo esse Camboriú.
Quando o homem chegou em casa, o cavalo estava morto. Indignado, voltou à casa do Zé Ventura para reclamar garantias. Chegou e já foi esculhambando com o velho.
- Oh sô Zé, dijaoje eu tive aqui, o sinhô mi atendeu, mi arreceitô uma receita, mas cheguei im casa e o mô cavalo tava morto. A sua simpatia num deu certo, eu fiz tudo certinho como o sinhô mandô, fui inté pensando no homi mais mintiroso de nosso Cambriú.
-Ponam Ponam misim fio, mi diga in quem que tu foi pensando?
-Eu fui pensando no meu vizinho, no Romeu – o Romeu Pereira. -Ponam Ponam misin fio, acuntece co Romeu não é dose pá cavalo, é dose pá inlefante, foi forte demági, mô filho!!!!

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